27/02/2016

A Conversão do Bloco


Acho (é a minha opinião...) que em cada um que se pronuncie ofendido ou chocado com o cartaz do Bloco temos, sinto-me certo disso, um falso cristão... alguém que o afirma ser por motivos profissionais ou qq outro modo de levar a vida... mas que não se diferencia de qualquer profano, orgulhoso, incapaz de pôr em prática o mandamento novo... Nenhum verdadeiro cristão (por definição exegética e mesmo evangélica) se sentirá afectado por cartazes... e, mesmo que estes se evidenciassem materialmente contundentes... daria a outra face e agradeceria (quiçá menos puro e vaidoso) a oportunidade de se oferecer em sacrifício.

Confesso-me um apaixonado pela figura de Jesus... embora já não no sentido religioso. Interesso-me pelo Jesus histórico, filosófico e político.

Não me choca o cartaz do Bloco (até pq não sou venerador/adorador de vacas sagradas) mas choca-me a estupidez petrificada, a esperteza saloia... que cidadãos tão arrogantemente ignorantes nos representem no Parlamento (embora tal se concretize sempre com a vontade da “maioria” dos portugueses...). Eu, que não me sinto cristão, que não me acho embebido em todas as virtudes da cristandade (messiânica)... não confio em quem diz o que diz no cartaz. É como dizer-me que 3 + 4 = 17... não alinho nesses raciocínios... pelo menos neste planeta... E não é só do Bloco... o Parlamento está cheio desse tipo de sabedoria... de arcanjos divinamente esclarecidos que só nos consultam para justificar folguedos, orgias abissais... Normalmente, eles é que sabem do que precisamos... A mediocridade par(a)lamentar.

A propósito. Não acredito na virgindade da mãe de Jesus... de outro modo não seria sua mãe... ou, dito de outro modo, se ela fosse virgem Jesus não teria sido Homem ou as nossas mães (cumprindo um desígnio bíblico e natural... de crescer e multiplicar) não seriam tão queridas e abençoadas como são. A importância atribuída a essa crença (mito) advém duma má interpretação da cultura palestina, do significado de chamar-se virgem naquele tempo, e das transformações e adulterações (intencionais) da doutrina, sobretudo pelo império romano... e da herança das religiões antigas, do paganismo e das virgens vestais...

Jesus teve, obviamente, um pai, tenha sido José ou não, e, sobretudo, uma mãe. Isto é, foi criado e educado num contexto de harmonia dos opostos... no contexto de parentalidade natural em que a nossa espécie se baseia. Crescemos e evoluímos a criar, a desafiar a natureza e a nossa tolerância (e até aceitação) permite a integração da diferença, a prática da compaixão e da generosidade contra a adversidade e o sofrimento. Tudo bem... somos assim... e temos o cosmos no horizonte, o infinito. Mas sem adulterar paradigmas e a matriz essencial da nossa existência. Sabendo discernir do que é efectiva e meramente uma excepção. Sabemos da matemática que duas coisas não podem ser ao mesmo tempo iguais e diferentes.
Um dia destes ainda vamos ver o Bloco a converter-se ao marianismo... "acreditando" tb no sortilégio anti-natura da virgindade da mãe de Jesus... acreditando até que ela viveu sempre com aquela juventude imatura plasmada nas imagens que o povo (anti-cristãmente) adora... e toda essa conversão para argumentar que ela foi simultaneamente filha e mãe de Deus... e justificar assim, de sobra, a campanha pelas barrigas de aluguer...

Estranho que o Bloco (e amigos) não proponham a abolição da referência ao sexo nos documentos... Quando duas coisas são iguais... para quê referi-las como diferentes? Já agora, pq não luta o Bloco para que as nossas mulheres polícias, militares, bombeiras, etc... se fardem exactamente como os homens, que façam as mesmas provas, com as mesmas exigências, etc.?... às tantas o Bloco nem sabe que as mulheres na tropa podem usar o cabelo comprido, brincos, etc... e que os homens não... apostava que nunca estiveram sequer na tropa, para além das visitas guiadas (e bem regadas) que a comissão parlamentar da defesa faz aos recreios castrenses... Cá entre nós que ninguém nos ouve... abespinharam-se tanto pela dúvida de Quintanilha ser deputado ou deputada... Não entendo pq se chocaram dessa vez... qual a (grande) diferença???... Eu, pessoalmente, sempre ouvi dizer que é masculino mas na realidade não sei... nem estou interessado.