12/03/2023

O Cruzeiro

 Desde sempre me lembro daquele cruzeiro... naquele cruzamento enviesado entre a igreja e o campo de futebol, atravessado pela estrada que passa por dentro de Anha, de Viana para Chafé. Na esquina contígua, a dar para o largo da igreja, está o tasco da Celeste.

Já o tenho visto ora com a pedra mais suja ora mais lavada, nem sei se já não foi um tanto deslocado (ou foi o que está à volta e o pavimento que mudou)... mas, às vezes com vasos ao pé,  na escadaria que o rodeia, sempre (que me lembre) o tenho visto por ali.

O que se afigura inédito, isso sim, é vê-lo rodeado de automóveis, alguns franca- mente mal estacionados, a diminuirem as possibilidades de outros por ali circularem!... Há pessoas com capacidades incríveis... são capazes de estacionar um carro onde menos se imagina... e os outros depois que se desunhem em manobras para conseguirem passar!...

Perante pessoas sem um mínimo razoável de civismo... só há uma solução: a Lei, o impedimento, a coima!... 

De que estão à espera as autoridades, nomeadamente a Junta de Anha, para intervir... para pontuar pelo civismo em volta do cruzeiro?...

09/02/2023

Censura

 Instituiu-se um discurso alegadamente "democrático", de dizer-se que em Portugal há liberdade de expressão e de pensamento... e liberdade, igualmente, no acesso às coisas escritas ou radiodifundidas, etc... etc...

Já há muito tempo que isso não é verdade, se é que alguma vez o foi. Por referência, por padrão, costumam dar-se exemplos extremos, como o da ditadura salazarista/caetanista... ou seja, exageram no contraste para que a real falta de liberdade não seja tão perceptível. 

Na realidade, a nossa liberdade (dos populares, meros mortais) é muito limitada e é mentiroso o argumento "democrático"/liberal com que pretendem definir o nosso regime. Iludem-nos com liberdades cómodas mas controlam-nos a acesso à "verdadeira verdade"... e nisso estão conluídos governantes, "políticos" e órgãos de comunicação social, na generalidade afectos ao poder.

O momento actual é bem elucidativo sobre essa falta de liberdade... o Governo, a chamada "união europeia" liderada pela ex-nazi Alemanha, os sempre tão agressivos EUA, a Nato, o chamado estado de Israel e demais interesses sociais  a "Ordem Mundial" (OM), elegeram a Rússia como seu inimigo (independentemente de esta ser invasora ou não... seria sempre o Inimigo), condenando-a por algo que os próprios EUA estão fartos de fazer a outros países soberanos... com o apoio da tal OM. A propria mole popular  por motivos diversos, desde um inusitado e intempestivo anti-comunismo até ao anátema herdado do salazarismo e iletracia estratégica e militar, aderiu em grande parte a este tabu. O presidente russo é (apresentado e) visto como um desumano ditador, ganancioso belicista e (seja isso verdade ou não) os adversários, nomeadamente os ucranianos são vistos como vítimas e representantes dialécticos do Bem. Assim... maniqueísticamente, maus de um lado e bons do outro, sem meios termos nem cinzentos.

Como se não bastasse esse maniqueísmo... a informação russa é censurada, nomeadamente canais televisivos e aos ucranianos tudo é permitido. Os cidadãos portugueses estão proibidos, dizem que pela "união europeia", de aceder a informação das "duas" partes e levam 24 horas por dias com " informação" e notória propaganda ucraniana e pro-ucraniana, sem qualquer direito de escolha... e sem que as entidades que exercem esta censura tenham sequer declarado ou assumido guerra à Rússia. 

É um conceito estranho de liberdade... uma liberdade em que a CIA, a Mossad e serviços secretos "aliados" e afins têm acesso total à nossa aparente privacidade informativa, que escolhem por nós o que "nos interessa"... e, a avaliar pela forma como a maior parte do povo reage, com bastante êxito. 

Portanto, falo por mim... da minha parte, não passei nenhuma procuração ao primeiro ministro de Portugal para me tutorear nas minhas escolhas... o senhor Costa está,  desta vez mais flagrantemente, a abusar da minha/nossa liberdade... está a suprimir direitos constitucionais... está a ser um traidor à liberdade de cada cidadão.  Infelizmente a maioria permitir-lhe isso. Uma maioria que não tem razão. 

08/10/2016

Pulsação nocturna

Exausto... sim, cansado de Ver... declino a cabeça, num gesto aludidamente bíblico... como se procurasse a suavidade húmida do(s) musgo(s)... e entrego o pensamento e o corpo à opacidade da noite.

A noite... essa matéria informe, tão densa como suave, pesada e levitante... onde flutuam os sonhos e, (muito) antes disso, se divisa a beleza dos rostos mal iluminados...

Um átimo de luz e de água... no deserto dos dias... e a extraordinária beleza das coisas exíguas e redobradamente verdadeiras.

Mizu-no-kokoro...

A palavra extingue-se, apaga-se assim, dialéctica e solidária com a noite... quem sabe se tântrica... e com a sua própria impotência de o dizer...

26/08/2016

Estalinismo Cas(ern)eiro

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/Stalin_1945.jpg
Estaline.
Estalinismo.
Toda a gente acha que sabe o suficiente sobre o assunto. 
Digamos que também eu achava… mas, curiosamente, quanto mais leio e aprofundo o assunto mais claramente compreendo quão próximo estive disso, como na segunda metade da minha carreira militar, estive submetido a chefes profundamente estalinistas… Crescentemente... Quanto mais para o fim pior... capazes de caprichos e prepotências totalmente contraditórias com o bom senso, a ética republicana e as leis e regulamentos em vigor. Tenho a certeza que só não cometeram (não cometem nem cometerão, espero) crimes da grandeza do famigerado ditador georgiano porque o contexto não lhes permite a concretização de tal vocação. De resto, alguns deles até foram, igualmente, seminaristas… é um fenómeno sócio-psicológico, patológico?, e, sobretudo, psiquiátrico (creio), esse que nos apresenta ex-ratos de sacristia, papa-hóstias compulsivos, como pérfidos sacanas, nomeadamente nas fileiras castrenses… desleais, pouco dados à verdade (sobretudo em momentos difíceis), pseudo-humildes… Fugir deles!... da sua alçada tutelar… da sua “competência” “disciplinar”… da sua avaliação ou "justiça"... quer dizer, da sua vingança mesquinha e ódio à liberdade de pensamento e à cultura. Como o georgiano, capazes de deturpar fotografias, nomes, estatísticas, valores e tudo o que se diz serem as virtudes castrenses… e ainda terem a distinta lata de, em momentos festivos, discursarem dizendo precisamente o contrário do praticado. Eles (ainda) andam por aí, como se fossem insubstituíveis, os vampiros… E, curiosamente (ou não), fazem igualmente questão de se fazerem passar por anti-estalinistas... De facto, é dos livros que, os bárbaros são sempre os outros!...

27/05/2016

Por uma escola democrática e pública

Lembro-me de, em criança, termos sido arregimentados pelos professores para aplaudir a passagem do então presidente Tomaz. Deram-nos bandeirinhas nacionais de papel… e alguém também arremessou ao marinheiro vestido de branco pétalas-de-rosas-brancas… Assim como se fosse a virgem-maria… Isto, claro, era no tempo do fascismo…
Agora vejo as escolas privadas fazerem muito pior. Arregimentam crianças para se “manifestarem” em favor daquele tipo de ensino mercenário, ostentando cartazes com palavras de ordem de que desconhecem, devido à sua imaturidade, o significado. Devia ser considerado crime?... Não sei… mas sei que me cheira a algo muito pouco ético e marcadamente anti-pedagógico. Por aí se pode aferir da sua alta qualidade de ensino.
Muitas pessoas, geralmente com pretensões elitistas, chamam qualidade de ensino aos resultados (às notas) escolares obtidos… Mas escola não é (não devia ser) só isso… A integração dos estudantes na sociedade real é muito mais importante… e isso pressupõe partilhar (com os outros) dificuldades… respirando o mesmo ar, comendo da mesma cantina, experienciando as coisas fáceis e difíceis proporcionados pelo regime político que nos governa.
Muitos defensores das escolas privadas e de outros estabelecimentos elitistas (impropriamente considerados públicos) argumentam, à falta de melhor discurso científico, que não se deve eliminar o que é “bom”, insinuando que essa formação “de elevada qualidade” irá contaminar positivamente toda a sociedade… Como se se estivessem a empenhar mais, a esforçar, em favor de todos, incluindo os pobrezinhos… É um argumento falacioso… pq depois não nos apercebemos dessa influência positiva. Vemo-los de emblema ao peito, muito briosos (“orgulhosos”) de terem sido formados naquela escola, a agitar influências no sentido de “servir” o país com bons ordenados… mas não os vemos a orientaram o seu conhecimento em favor da sociedade mais do que os cidadãos da escola pública… antes pelo contrário.
Também a maçonaria tinha (inicialmente) muito boas intenções, nomeadamente de fraternidade, benevolência e tolerância… num contexto espiritual de devoção ao grande arquitecto. E hoje que vemos dessa elite de pretensos iluminados?... Quão iniciáticos são efectivamente?... Ou melhor… quão diferem de outras seitas de corrupção e tráfico de influências como a opus dei e até as máfias?
Escola pública, boa ou má… igual para todos. Os pais que quiserem mais luxo podem sempre fazer donativos para a escola pública nesse sentido.
Quem quiser privada que a pague, obviamente, sem subsídios da república e sem equivalências directas (isto é, equivalências só após exames na escola pública).

08/04/2016

Afêtos do Supremo Comandante

Nesta presidência caracterizada pelos afêtos (...), e ainda a procissão vai no adro, já deu para ver quase um pouco de tudo... MRS, à semelhança da generosidade manifestada para com os sucedâneos ortográficos da língua portuguesa, dá abraços a qualquer manifestação opinativa desde que engendradora ou embrionária de algum “poder”... Ele “canta” rápe (...) de manifesta má qualidade (partindo do optimista princípio que há isso de qualidade...)... ele (presidente de uma república laica...) oscula a mão papal... ele dilata o conceito de Estado, a ponto de dar olímpico abrigo no mesmo a um (estrangeiro) dos trafulhas da “Europa”... ele um dia destes convida, de certeza, para o Conselho o papa Francisco... (e não seria, obviamente, dos conselheiros mais indignos...)...

Por falar em afêtos... foi necessário bulir-se com o tabu da sexualidade, neste caso da infame e ora militante (e geradora de orgulho) homossexualidade, para que um chefe militar se demitisse... e com a pronta anuência do dito afêtuoso presidente. A homossexualidade... e uma escola de ensino civil administrada por militares... Quanto aos inúmeros problemas que acontecem nos quarteis, no verdadeiro ambiente militar, aí nunca vemos demissões... e os ministros e presidentes também nunca vêem nada... deste o anátema persecutório sobre militares estudantes (à sua própria custa) até ao escabroso mostrengo de Mafra (onde se reuniram, como num mausoléu medieval, os restos mortais das escolas práticas)... nem sequer os deputados das comissões parlamentares da defesa... Não vêem nem ouvem nada nem querem ter disso conhecimento... De resto, a destruição sistemática das forças armadas, sobretudo do exército, vem sendo perpetrada há décadas, com o conluio da generalidade da sociedade civil que amiúde alude aos militares como um sorvedouro de dinheiro e parasitismo (e sem reacção palpável das chefias militares)...


Mas eis (como a história da parra e da raposa...) que se fala em discriminação dos meninos das escolinhas militares!... é logo um escândalo... os cabos-de-guerra demitem-se!!!... e os políticos concordam!!!...
 


Derivado da Constituição da República, o EMFAR (Estatuto dos Militares das Forças Armadas) reza no seu artigo 16.º, n.º 2 que “O militar não pode ser prejudicado ou beneficiado em virtude de ascendência, sexo, raça, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, situação económica, condição social ou orientação sexual”... Preocupassem-se os chefes militares a sério com o cumprimento deste artigo, entre outros, e teriam motivos de sobra para apresentar (amiúde) a sua demissão. Em vez de demissões ou, pelo menos, a assumpção da culpa, o que se vê mais nas altas esferas hierárquicas são (embora cada vez menos, tb) promoções.


12/03/2016

Dharma de Prado

Como um urso polar mobiliza conforto num manto de neve... também esta vaca, que há minutos observo, se vergou leitosa à gravidade da Terra, num ninho verde que (até) a mim apetece. Está muito mais próxima do (meu) ser, avesso (que sou) aos calores tropicais mas que também (cismo) do gêlo agreste...
Contemplo o seu rezar ruminante... o mantra búdico, de que estou certo sermos irmãos... no caso dela materializado no re-moer da erva... e de mim na serenidade almejada e digerida.
Esta quietude... do pasto fustigado pelo Sol, prometendo a Primavera... e já o vislumbre, ou a espera, daqueles matizes amarelos e lilases...
Respirar (quase) como a vaca, na sua budicidade carimbada de malhas... é já um fruir de felicidade bastante... mesmo com a ausência das papoilas e sem a sinfonia de que se gosta.
E o leite dela... espera(m)-(n)o as crias.

27/02/2016

A Conversão do Bloco


Acho (é a minha opinião...) que em cada um que se pronuncie ofendido ou chocado com o cartaz do Bloco temos, sinto-me certo disso, um falso cristão... alguém que o afirma ser por motivos profissionais ou qq outro modo de levar a vida... mas que não se diferencia de qualquer profano, orgulhoso, incapaz de pôr em prática o mandamento novo... Nenhum verdadeiro cristão (por definição exegética e mesmo evangélica) se sentirá afectado por cartazes... e, mesmo que estes se evidenciassem materialmente contundentes... daria a outra face e agradeceria (quiçá menos puro e vaidoso) a oportunidade de se oferecer em sacrifício.

Confesso-me um apaixonado pela figura de Jesus... embora já não no sentido religioso. Interesso-me pelo Jesus histórico, filosófico e político.

Não me choca o cartaz do Bloco (até pq não sou venerador/adorador de vacas sagradas) mas choca-me a estupidez petrificada, a esperteza saloia... que cidadãos tão arrogantemente ignorantes nos representem no Parlamento (embora tal se concretize sempre com a vontade da “maioria” dos portugueses...). Eu, que não me sinto cristão, que não me acho embebido em todas as virtudes da cristandade (messiânica)... não confio em quem diz o que diz no cartaz. É como dizer-me que 3 + 4 = 17... não alinho nesses raciocínios... pelo menos neste planeta... E não é só do Bloco... o Parlamento está cheio desse tipo de sabedoria... de arcanjos divinamente esclarecidos que só nos consultam para justificar folguedos, orgias abissais... Normalmente, eles é que sabem do que precisamos... A mediocridade par(a)lamentar.

A propósito. Não acredito na virgindade da mãe de Jesus... de outro modo não seria sua mãe... ou, dito de outro modo, se ela fosse virgem Jesus não teria sido Homem ou as nossas mães (cumprindo um desígnio bíblico e natural... de crescer e multiplicar) não seriam tão queridas e abençoadas como são. A importância atribuída a essa crença (mito) advém duma má interpretação da cultura palestina, do significado de chamar-se virgem naquele tempo, e das transformações e adulterações (intencionais) da doutrina, sobretudo pelo império romano... e da herança das religiões antigas, do paganismo e das virgens vestais...

Jesus teve, obviamente, um pai, tenha sido José ou não, e, sobretudo, uma mãe. Isto é, foi criado e educado num contexto de harmonia dos opostos... no contexto de parentalidade natural em que a nossa espécie se baseia. Crescemos e evoluímos a criar, a desafiar a natureza e a nossa tolerância (e até aceitação) permite a integração da diferença, a prática da compaixão e da generosidade contra a adversidade e o sofrimento. Tudo bem... somos assim... e temos o cosmos no horizonte, o infinito. Mas sem adulterar paradigmas e a matriz essencial da nossa existência. Sabendo discernir do que é efectiva e meramente uma excepção. Sabemos da matemática que duas coisas não podem ser ao mesmo tempo iguais e diferentes.
Um dia destes ainda vamos ver o Bloco a converter-se ao marianismo... "acreditando" tb no sortilégio anti-natura da virgindade da mãe de Jesus... acreditando até que ela viveu sempre com aquela juventude imatura plasmada nas imagens que o povo (anti-cristãmente) adora... e toda essa conversão para argumentar que ela foi simultaneamente filha e mãe de Deus... e justificar assim, de sobra, a campanha pelas barrigas de aluguer...

Estranho que o Bloco (e amigos) não proponham a abolição da referência ao sexo nos documentos... Quando duas coisas são iguais... para quê referi-las como diferentes? Já agora, pq não luta o Bloco para que as nossas mulheres polícias, militares, bombeiras, etc... se fardem exactamente como os homens, que façam as mesmas provas, com as mesmas exigências, etc.?... às tantas o Bloco nem sabe que as mulheres na tropa podem usar o cabelo comprido, brincos, etc... e que os homens não... apostava que nunca estiveram sequer na tropa, para além das visitas guiadas (e bem regadas) que a comissão parlamentar da defesa faz aos recreios castrenses... Cá entre nós que ninguém nos ouve... abespinharam-se tanto pela dúvida de Quintanilha ser deputado ou deputada... Não entendo pq se chocaram dessa vez... qual a (grande) diferença???... Eu, pessoalmente, sempre ouvi dizer que é masculino mas na realidade não sei... nem estou interessado.

18/01/2016

Os Candidatos e a Língua Portuguesa


Segundo o artigo de AMM (vide: https://www.publico.pt/politica/noticia/o-acordo-ortografico-de-1990-e-as-presidenciais-1720487?page=-1), pode-se concluir que a posição dos candidatos a PR perante o AO90 é a que coloquei na tabela anexa:

AO90
E.Silva
H.Neto
Marcelo
M.  Belém
Marisa M.
P. Morais
S. Nóvoa
A Favor?
N
S
S
S/N
N
N
N/S
Revisão?
-
S
N
S/N
-
-
S
Adoptou?
N
N
N
S/N
N
N
S