30/12/2014

Uma Vaca no Prado


Um imenso manto verde
É a pele da Terra neste ponto
Transpirando breve névoa
Nos sítios mais deprimidos
Majestosa e serena como um Buda
De tez com pêlo alaranjado
Uma vaca também observa
A calma que corre até ao fundo
Ao fundo, onde se vislumbra o Mar
Fazendo espuma nas rochas
Apesar do corpo todo azulado
Não rumino como a vaca
Mas o ar também respiro
*
(2008)

24/12/2014

Prelúdios da (Des)Virtude Castrense - 1 (A Avaliação)

A Avaliação
Para certos chefes, Lealdade é:
Mentir sob juramento a favor do Chefe
Dizer o que o Chefe gosta de ouvir
Dispensar o cumprimento da Lei se isso agradar ao Chefe
Nunca discordar do Chefe
Achar sempre piada às anedotas contadas pelo Chefe (apesar do Chefe, pela sua burrice endógena, não dispor de um mínimo de inteligência necessária para parir um avo de humor...)
Venerar o Chefe como se fosse uma divindade
Considerar o Chefe o mais inteligente e mais culto
Nunca se queixar do Chefe ou dos amigos do Chefe
Para esses chefes, ter Integridade de Carácter é ter esse tipo de Lealdade definida acima
Isto apresenta um enorme problema, ou mesmo dois ou três.
Desde logo, um problema semântico, de não se tratarem as coisas pelo verdadeiro nome. Depois um problema de inversão de qualidade da Virtude, uma vez que tratam como virtuoso o que está nas antípodas do mesmo, na sua antítese, no Vício.
Soa desarmonioso, até para os profanos, chamar Leal ou Abnegado a um objectivo coiro parasitista e de palavra mais variadora que o câmbio nas bolsas.
Dizem haver uma necessidade urgente e absoluta de avaliar os professores, como já se avaliam os militares nos quartéis e os funcionários nos escritórios. Há um vício de avaliar, uma toxicodependência de o fazer. E a gente fica, inevitavelmente a coçar a orelha e a pensar… achando que há coisa nisto que não joga bem.
E eu chamo capitalista a esta doença, e até mesmo fascista, porque (após poucos avos de cisma) se conclui que estes rituais não são geralmente praticados com o mínimo de elementar Justiça.
Vejamos o que se passa por exemplo num quartel do Exército:
O Avaliando é um Major. Trata-se dum Oficial Superior (por aqui se imaginando o que poderá acontecer com um Sargento ou um Soldado), mas ele deverá ser avaliado por três oficiais mais elevados que ele, um dos quais é o próprio comandante.
Acontece que nenhum dos 3 avaliadores grama o avaliando, mas nada que tenha a ver com o serviço, com o desempenho do trabalho.
O 1.º avaliador não o grama, nem sabe bem porquê, mas sobretudo porque sabe que o 2.º avaliador e o cmdt não o gramam. Além disso já teve com o avaliando algumas escaramuças verbais nomeadamente opiniões sobre o aborto, religião e política em geral. É agora uma boa oportunidade de se vingar.
O 2.º avaliador já esperava por esta há muito tempo, vai finalmente esfregar as mãos de contente, ver o seu orgulho ferido amortizado.
(continua)



Carta do Exílio


No estado capitalizóide e gueizóide de Sócrates, a Liberdade é um mero vocábulo de retórica e a única liberdade que temos é a que não nos conseguem (ou não convém) tirar.
Não sendo partidário, acólito ou simpatizante do botas de Santa Comba, confesso sentir mais respeito por ele, pelo objectivo ditador (como até os locutores abusivamente lhe chamam) Salazar do que por estes Cavacos, Sócrates, Jardins, Barrosos e afins. Do outro, do clássico ditador, sabiamos (todos) com o que contar... e também acabamos por saber que não se abotoava com o pecúlio como o que estes subtraem à Nação e ao Povo.
Salazar nunca foi um Ladrão sinistro como Vitor Constâncio, que em qualquer outro país menos sereno já teria sido fuzilado ou linchado por populares em fúria sedentos dum mínimo de justiça.
Os actuais governantes, além de ladrões, são arrogantes e só se assemelham a simpáticos e servis que nem putas (quer rafeiras quer de luxo) quando precisam do voto popular para perpetuar a sua sede de ditadura e ladroagem.
Não há LIBERDADE em Portugal porque o que há essencialmente é MENTIRA... e tal repercute-se a todos os níveis, até nos quarteis donde alegadamente terá germinado o rebento fundamental da instauração duma pretensa liberdade. Não havendo liberdade, há, lógicamente, PIDES... com outro nome e outro disfarce, é claro.
No 10 de Junho condecoram-se pessoas que ninguém conhece ou, simplesmente, porque são conhecidas. Nunca se vê um TRABALHADOR, um operário, um pescador, um mineiro, a ser condecorado. Nem um Soldado, obviamente. No tocante à Defesa, costuma ser um (ou mesmo dois) general (ais) que não fizeram absolutamente NADA pelas Forças Armadas (FA), a não ser cortar bolos de aniversário com a espada (de comando) e, eventualmente destruir um pouco mais a estrutura das FA.
Em Portugal, continua a haver Presos Políticos... não da forma clássica, é verdade, mas nas ruas, à secretária no local de trabalho, na parada do quartel.
Exemplo flagrante de opressão num sentido amplo e mesmo político é o que tem acontecido na PASS, onde militares têm sido perseguidos por motivo de ideologia política, credo religioso ou filosofia de vida, ou ainda simplesmente por solicitarem o cumprimento de leis consagradas na Constituição da República Portuguesa.
Recentemente, dois oficiais foram sujeitos nessa Unidade do Exército a restrições injustificadas de liberdade de movimentos dentro do aquartelamento, bem como de acesso à Internet. Foram inventadas medidas, algumas de índole aparentemente legal, e de aplicação aparentemente geral, mas orientadas na prática para o prejuizo e controlo de movimentos desses únicos oficiais.
Como corolário dessa atitude, em que os militares se encontravam na prática com menos Direitos do qualquer presidiário de qualquer penitenciária portuguesa, desmotivaram um deles a que continuasse nas fileiras, tendo passado já à Reserva (domicílio). Quanto ao outro, participante neste Blog, foi compulsivamente enviado para o Exílio, dentro do que era possível "dissimuladamente" fazer-se. Não o mandaram para a Sibéria porque parecia mal (afinal de contas os participantes na Decisão Final são todos Católicos e até estiveram presentes na última Peregrinação Militar a Fátima...) e sobretudo porque a Sibéria não nos pertence nem somos (eles) tradicionalmente amigos dos Russos... e para uma Reserva ìndia, podia ser perigoso na medida em que o presidiário sempre manifestou admiração pelos ameríndios...
Do Exílio... como é o exílio?... Bem, paradoxalmente ter-se-á de dizer que no geral é de muito melhor qualidade que a PASS, o que não é de espantar. Saudades ficam é das árvores que a PASS tem (embora não merecendo) e de alguns amigos... e até dos gatos vadios que por lá pululam.
No BATALHÃO DISCIPLINAR 999, fora as árvores, tudo é melhor que na PASS.
Já começamos entretanto a incrementar a área verde, tentando colaborar para que esta unidade do exílio seja, além de humanamente de qualidade superior à dos sheminaristas frustados de transmissões, detentora também de árvores e plantas condizentes com a qualidade da massa humana.
Neste batalhão respira-se camaradagem, lealdade, inteligência, entreajuda, respeito, orgulho (satisfação) de se ser militar... tudo coisas inexistentes no Reino de Mathias & Mello - Cabreiro. Lda, a Serôdia empresa que governa a pseudo-escola militar do Porto.
O autor desta carta/crónica, apesar de prophundamente quichotesco, não tem ilusões acerca da dissimulação e mistificação do IN, não anda tanto a dormir como possa aparentar.
Mas o que constata é que, tal como no reinado do coronel Morera (que inteligentemente soube amaciar o vector persecutório anterior, proporcionando alguma aparente frontalidade e respeito para com oficiais "problemáticos") também a actual administração do Batalhão Disciplinar 999 está a ser objectivamente cortês, educada e aparentemente frontal e respeitadora) para com o exilado político implicitamente em epígrafe.

(Dos idos no aCtivo)

O Perigo de os Militares Falarem - 1

De vez em quando fala-se… de os militares falarem… e do perigo que daí pode resultar para o bem estar do País, das instituições, sobretudo da democracia e da liberdade que lhe corresponde.
Ai que nem é bom pensar nisso!, na desgraça e/iminente, na catástrofe que daí poderia advir, de os militares poderem falar como qualquer outro cidadão (emancipado)!... era só o que faltava!, depois de tanto escândalo e corruPção ainda por cima a Pátria ter que suportar tal desconforto extremo, esse rude golpe, de se ouvir militares a falar!...
Toda a gente sabe, há muito tempo que isso ficou determinado, que um militar não deve ter direito de expressar livremente o que lhe vai na alma, desde logo porque o mesmo tem uma alma diferente (castrense e, por que não?, castrada), e já muito o Governo da Nação é tolerante em lhe permitir que colabore para a reconstrução do pecúlio nacional e até que pague impostos!... Que mais quer?... de que mais precisa um militar para dirimir (e redimir) o seu complexo de inferioridade e se achar humanamente igual aos demais?! Aceita-se o seu abnegado contributo, ora essa, mas daí até querer falar…!...
Toda a gente sabe que um militar (como um "guarda-costas" ou "guerreiro-do-choque"...) não sabe falar, não foi para isso que foi configurado. 1, 2… esquerda, direita (mau-mau!, quer dizêre esquerdo, direito... o 1, 2 está bem...)… não é falar, não é expressar opinião, e assim é que está bem… assim é que é natural, como as ervas que teimam em crescer na Parada…
Doutro modo não nos entendíamos. Cada macaco no seu galho. Já viram?... se o militar tivesse direito a falar, então qualquer civil deveria ter direito a dizer 1, 2… esquerdo, direito… e já imaginaram?!...
Para além do mais, o Governo da Nação não lhe paga para falar. Para falar já basta os jogadores de futebol… e lá está, esses não sabem distinguir o 1 do 2… e a esquerda da direita… tá certo.