24/12/2014

Prelúdios da (Des)Virtude Castrense - 1 (A Avaliação)

A Avaliação
Para certos chefes, Lealdade é:
Mentir sob juramento a favor do Chefe
Dizer o que o Chefe gosta de ouvir
Dispensar o cumprimento da Lei se isso agradar ao Chefe
Nunca discordar do Chefe
Achar sempre piada às anedotas contadas pelo Chefe (apesar do Chefe, pela sua burrice endógena, não dispor de um mínimo de inteligência necessária para parir um avo de humor...)
Venerar o Chefe como se fosse uma divindade
Considerar o Chefe o mais inteligente e mais culto
Nunca se queixar do Chefe ou dos amigos do Chefe
Para esses chefes, ter Integridade de Carácter é ter esse tipo de Lealdade definida acima
Isto apresenta um enorme problema, ou mesmo dois ou três.
Desde logo, um problema semântico, de não se tratarem as coisas pelo verdadeiro nome. Depois um problema de inversão de qualidade da Virtude, uma vez que tratam como virtuoso o que está nas antípodas do mesmo, na sua antítese, no Vício.
Soa desarmonioso, até para os profanos, chamar Leal ou Abnegado a um objectivo coiro parasitista e de palavra mais variadora que o câmbio nas bolsas.
Dizem haver uma necessidade urgente e absoluta de avaliar os professores, como já se avaliam os militares nos quartéis e os funcionários nos escritórios. Há um vício de avaliar, uma toxicodependência de o fazer. E a gente fica, inevitavelmente a coçar a orelha e a pensar… achando que há coisa nisto que não joga bem.
E eu chamo capitalista a esta doença, e até mesmo fascista, porque (após poucos avos de cisma) se conclui que estes rituais não são geralmente praticados com o mínimo de elementar Justiça.
Vejamos o que se passa por exemplo num quartel do Exército:
O Avaliando é um Major. Trata-se dum Oficial Superior (por aqui se imaginando o que poderá acontecer com um Sargento ou um Soldado), mas ele deverá ser avaliado por três oficiais mais elevados que ele, um dos quais é o próprio comandante.
Acontece que nenhum dos 3 avaliadores grama o avaliando, mas nada que tenha a ver com o serviço, com o desempenho do trabalho.
O 1.º avaliador não o grama, nem sabe bem porquê, mas sobretudo porque sabe que o 2.º avaliador e o cmdt não o gramam. Além disso já teve com o avaliando algumas escaramuças verbais nomeadamente opiniões sobre o aborto, religião e política em geral. É agora uma boa oportunidade de se vingar.
O 2.º avaliador já esperava por esta há muito tempo, vai finalmente esfregar as mãos de contente, ver o seu orgulho ferido amortizado.
(continua)